Espaço destinado ao registro das percepções críticas de um cidadão brasileiro sobre política, comunicação, comportamento e demais assuntos pertinentes à sociedade contemporânea.
Uma visão técnica do ponto de vista do marketing e apaixonada do ponto de vista humano. Leia, critique e replique à vontade!

domingo, 20 de maio de 2012

A arte da guerra – Nós escolhemos nosso general


A arte da guerra – Nós escolhemos nosso general

Não acredito em organizações acéfalas, onde cada integrante tem total autonomia para decidir sobre suas ações e forma de participação no grupo, sem se importar com a coletividade. Acredito que em uma sociedade complexa, permeada por diversos tipos de relacionamentos - onde as interações estão sempre impregnadas por interesses individuais - em não havendo diretrizes de comportamento e balizadores de atitudes, fatalmente s mesma caminharia para o caos e a desintegração.
Percebo na essência humana a tendência para a auto-preservação, a colocação de interesses pessoais sobre qualquer matéria que não lhes sejam favoráveis, talvez pelo instinto de sobrevivência, talvez por uma ganância nata pelo poder e dominação do próximo.
Podemos iniciar uma investigação simples, observando o comportamento das crianças pequenas, que sem conhecimento de mundo, políticas, sistemas econômicos ou sociais, iniciam-se na vida monopolizando todas as atenções dos que estão a sua volta, garantindo que todas as suas necessidades sejam atendidas de pronto, e não me refiro apenas às básicas, mas às de atenção, principalmente com seus choros e gemidos, com ataques histéricos, mesmo após estarem saciados e limpos, simplesmente para conferir se realmente estão a postos seus serviçais.
Quem nunca ouviu de uma sábia avó os dizeres: “isso é manha!”? Quantos já presenciaram crises de ciúmes, ou brigas egoístas por brinquedos e mimos, entre crianças de tenra idade, que mesmo com feições angelicais não se furtam a agredir e gritar contra aqueles que lhes ultrapassam os limites? Se são assim enquanto crianças, imaginem o que serão capazes de fazer aos “coleguinhas” quando crescidos? Definitivamente, estes somos nós, seres que buscam mais do que a simples sobrevivência, buscam o controle do espaço que julgam merecer, a despeito do espaço que julgam ser de merecimento do seu próximo.
Por ter claros os motivos pelos quais não acredito na capacidade humana de auto-gestão individual, dentro da vida em sociedade, trago agora uma questão ainda mais passível de debate: quem deveria, então, ser o guia desta sociedade? Quais características devem estar presentes nos que serão gestores sociais, coordenadores e equalizadores de desejos, necessidades e expectativas de um grupo eclético, miscigenado e obrigado a conviver em espaços e níveis diferentes de uma mesma sociedade? E o principal, como escolhê-los?
Por muitos séculos essa escolha foi conferida a Deus, onde por direito de nascimento os comandantes supremos, os monarcas, sucediam-se em tronos sobre as nações dos quais conduziam, ao seu bel prazer, as vidas dos súditos que, mesmo contrariando sua natureza, submetiam-se aos comandos e desmandos de seus senhores, em troca da pseudo-satisfação de suas necessidades. Quando não puderam mais apoiar-se simplesmente nas vontades de Deus, por ter entrado em cena algo que, para muitos é bem mais poderoso que o próprio Deus, a moeda tornou-se o principal fator legitimador de domínio e governo.
Duas coisas não mudaram desde a antiguidade até os dias atuais: a natureza humana e o poder da moeda! No entanto as sociedades foram transformadas pela influência das ciências, filosofia e interação cultural proporcionada pela expansão dos reinos em busca de mais moedas, fazendo com que outros critérios se fizessem importantes para configurar-se um comandante digno de ser seguido. Com as transformações das sociedades, as formas de governo também se transformaram, a submissão social aos mandos e desmandos dos governantes passaram a exigir novas habilidades, novas posturas por parte dos que pretendiam ascender ao poder, ao posto de comandante supremo.
Voltando ao passado, recorro às falas do grande general Sun Tzu (séc. IV AC), que deixou em seu tratado, “A arte da guerra”, uma explicação simples e exata sobre a figura do governante, segue: “O comandante é o equilíbrio da carruagem do estado. Se este equilíbrio estiver bem colocado, a carruagem, isto é, a nação será poderosa; se o equilíbrio estiver defeituoso, a nação, certamente, será fraca.”
Não podemos conceber, então, um governante que não represente fielmente todos os princípios e habilidades que se fazem necessários para agregar à sua volta os diferentes tipos de liderados. Honestidade, austeridade, firmeza, coragem, transparência, entre tantos outros adjetivos que nos surgem quando pensamos no líder perfeito, devem ser buscados em todos os que se colocam como opção nos pleitos eleitorais. Como já disse, não só a moeda, ou desígnios de Deus, devem ser tomados como legitimadores das escolhas sucedidas nas urnas municipais, estaduais e federais, é preciso a investigação e o monitoramento constantes daqueles que colocam suas biografias a serviço da nação, para que se sejam confirmados os pré-requisitos definidos para a ocupação dos cargos correspondentes.
Hoje nossa sociedade se vale de um instrumento democrático para escolha de seu governante. Entregamos de forma consensual nossas vidas ao comando de homens e mulheres que ascenderão ao posto de supremo dirigente, a cada quatro anos. Não por desígnio divino, e não somente pelo poder da moeda, é definido quem responderá pela manutenção das satisfações sociais, a agregação do grupo sob as cores de uma mesma bandeira. Talvez agora, como partícipes do poder e detentores do direito inalienável de escolha sobre o destino de toda a nação, esteja nos faltando uma parte fundamental do que nos manteve vivos durante o passar da eras, o entendimento de que nossa sobrevivência depende disto.

Marcos Marinho
twitter: @marinhomkt

Nenhum comentário:

Postar um comentário