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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Despertar – Um povo entre urnas e colchões


Despertar – Um povo entre urnas e colchões

Penso que amanhã você deveria ignorar o chamado do despertador e continuar em seu colchão, um dos poucos locais onde se sente realmente seguro e confortável. Acredito que ali, envolto em cobertas e lençóis, apoiado maciamente em seu travesseiro e sabendo que não existem monstros debaixo da cama, você se sentirá bem!
Acordar cedo pra quê? Tomar várias conduções ou sentar-se sonambulamente ao volante de seu carro, encarando um trânsito infernal em cidades mal projetadas, em troca de quê? Surgirão respostas para estas questões, muitas delas antes mesmo deste texto acabar de ser lido.
Mas falo sério quando digo que você não deveria se levantar da cama amanhã, pois sua marcha cotidiana isenta de reflexão sobre o que está acontecendo com nossa sociedade, sobre a perda da fé dos homens em relação às instituições políticas, em relação aos processos democráticos, à justiça e, principalmente, sobre o próprio homem, torna desnecessário o perambular do seu corpo pelas ruas desse país, pois não haverá direção que o leve ao futuro.
Usando uma lógica cartesiana, onde a dúvida nos move em direção à investigação e comprovação da tese mais coerente, afirmo que não existe lógica em mantermos a rotina que nos leva sempre ao mesmo vácuo, um lugar onde duvidamos de tudo e nos contentamos em simplesmente executar ações cadenciadas e programadas para cumprir obrigações.
Acostumados à sobrevivência recheada de subsistência, temos na nossa população o retrato, em preto e branco, de reminiscências das histórias escandalosas que formam a própria história desse país. Em galerias midiáticas, vemos expostas sequências de fatos, que em tudo nos sobrecarregam, com o desânimo que nos motiva a desistir de lutar, a realmente continuar sob os lençóis ou na roda de ratos que nos garante sustento - e apenas isso.
Perder a esperança nos homens, nas instituições que representam a sociedade, nos processos democráticos eletivos, na justiça, nas instituições religiosas ou no dia que irrompe entre sombras e escuridão, é desistir da própria vida, dos sonhos, do trabalhar honestamente, do sorriso das crianças, do afago dos pais, dos pensamentos livres, das artes, dos jardins, de tudo que, independente do mal que recebe, continua seu movimento de entregar-se ao próximo.
A maneira mais fácil de desistir é acreditar que não vale a pena, que nada vai mudar e que as coisas são e serão sempre assim. Em sendo o objetivo este, desistir, fica mais evidente a adequação da orientação dada no início deste texto: não saia da sua cama amanhã! Se você realmente acredita que todos os políticos não prestam, que votar é uma estupidez, que o papel do governo é extorquir a população, que esse país não tem jeito, que os jovens estão todos “perdidos”, e que aqueles que gritam o contrário, que manifestam suas opiniões e discordam de tudo isto são apenas inocentes iludidos, por favor, definitivamente, não saia da sua cama!
Aos ainda ressonantes, digo que não podemos ver o erro apenas nos processos e sistemas, sem antes entender que estes não ocorrem sem seus operadores. Compreendendo que a negação dos parâmetros adotados pela sociedade, com intuito de viabilizar a vida em grupos, é induzida pela descrença naqueles que foram escolhidos por seus pares, para lhes personificar parlamentarmente, torna-se preciso perguntar: “Ao ter uma farpa encravada em seu dedo, infeccionando e causando dor, você cogita arrancar o dedo?”
Aos cérebros despertos, aqueles que não aceitam o entorpecimento midiatizado, que questionam o suceder sem fim de ratos demagogos em cadeiras de couro nos palácios e câmaras, secretas, aqueles que não desistem de buscar a verdade sob os escombros despejados por cachoeiras de mentiras, aqueles que insistem em manifestar sua opinião consciente através do apertar de um botão verde, ou em teclas de redes sociais que gritam a alvorada, meu bom dia!

Marcos Marinho
twitter: @marinhomkt

4 comentários:

  1. Marcos, o que dizer deste artigo? Digo então que metade de mim quer continuar deitado na cama conformado com a situação enquanto a outra metade faria o papel de despertador, incomodando e atrapalhando aquele divino e merecido momento de descanso psicológico. Hoje afirmar ter fé na política é mesmo um pensamento bastante kamikaze. É motivo para bullying no meio dos colegas e muito mais. E não é mentira, para qualquer um que falar que Brasília ainda tem jeito, ou que tem fé em uma carga tributária justa, isso nem precisa ser piada de português pra deixar o receptor da mensagem “rachando os bicos” de tanto rir. Bem no inconsciente eu acredito na política, mas na política de amanhã, aquela depois do seu ou do meu tempo. Aquela feita por homens que receberam na infância a educação de ética, moral e cidadania. Mas para que isso aconteça, alguém terá que continuar levantando, mesmo que obrigatoriamente, para limpar a sujeira de nosso cenário político. É por isso que meu outro lado não me deixa dormir.

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  2. Eu posso dizer bom dia então... Porque ficar deitado esperando nao é comigo nao

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  3. O mais importante Douglas(perdão), é que esse movimento educacional realmente comece! Não devemos ficar deitados em nossas camas, reclamando de tudo e fazendo nada para mudar o que nos incomoda. Devemos nos levantar, tomar nossa responsabilidade e seguir em frente, disseminando reflexões e informações que despertem mais e mais cérebros inertes. Existe uma frase que me marcou muito, e acredito que represente bem toda essa situação. segue:
    "Para que o mal triunfe basta que os homens de bem se omitam" Edmund Burke.

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