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domingo, 6 de maio de 2012

O que dizer a eles? - Homenagem aos meus alunos e todos os jovens desta nação.


O que dizer a eles?


Como deve ser viver em um mundo sem super-heróis, sem pais severos, porém amorosos, sem mães preocupadas e ao mesmo tempo orgulhosas, sem modelos que sirvam de parâmetro para sonharmos em fazer sempre mais do que já foi feito?
            Lancinou-me essa indagação quando passei a aprofundar meu olhar nas feições e ações da juventude, quando comecei a tentar decifrar os tons em seus discursos, as mensagens em suas roupas e suas exposições e exibições nas redes sociais. Fujo do moralismo opressor, da castração de ideias e opiniões, que tentam usurpar a capacidade de se rebelar contra o sistema, de sair às ruas e questionar seus direitos e oportunidades. Atenho-me justamente ao oposto destas lutas por causas, ditas perdidas, por arcaicos sabichões que desencorajam endemicamente qualquer ato que não a submissão ao contexto sórdido que nos é imposto, valendo-se de máximas populares toscas, do tipo: “é sempre assim!” ou “quando chegar a minha idade você aprenderá que não adianta!”.
Minhas inquietações perpassam pela contraposição que faço entre o cenário atual, onde está inserida a juventude que mencionei acima, e o cenário composto pela juventude de duas, três, quatro décadas atrás. Não vou propalar delírios saudosistas, pois esses se cegam pelo tempo, mas quero buscar as referências que, boas ou más, amalgamaram-se na formação daqueles que atualmente são os “tios e tias” com mais de 30 anos. Essas gerações conviveram com modelos familiares, personagens fantásticos, ícones ideários que guiaram revoluções e, também, toda produção cultural calcada na rebeldia e nas aspirações lisérgicas ou artísticas, além do lixo cultural que igualmente era posto à mesa, em uma proporção onde princípios e valores eram repassados e ostentados como brasões, e sobressaíam a ponto de prevalecer sempre a esperança.
Olhando a paisagem descortinada a minha frente, através de janelas virtuais ou não, vejo uma geração carente de modelos, de heróis. De forma alguma modelos de “sucesso financeiro” como artistas, celebridades, pseudo-celebridades, ou esportistas que representam o desvalor da educação, através de comportamentos boçais e espúrios, impassíveis de repreensão popular e midiática, pois pertencem ao Olimpo reservado aos milionários jovens e inconseqüentes, idolatrados por seus pares em comportamento, não em condições. Também não cito os “heróis” apócrifos, comemorados e aludidos por apresentadores aloprados, que encontram valor na exposição midiatizada de corpos desnudos e anabolizados, responsáveis por carregar imbecilidades e ignorâncias que servem apenas para verter dinheiro aos cofres de algumas empresas. Vejo a carência de referenciais dignos, que apresentem em si atitudes e limites que fazem prevalecer a ética, o respeito, a justiça, a humildade, o zelo, a solidariedade, a coragem e a determinação, que são capazes de manter de pé aqueles que, mesmo após desgostos e decepções, continuam sem considerar válido “o outro lado da força” – essa eles não vão entender.
Lembro que sempre, em todas as épocas, existiram os mal intencionados, os usurpadores e enganadores, porém recordo também que era possível ver perseverar nos olhares da juventude, nos semblantes de outrora, o fio de esperança que os faziam seguir em frente. Havia os verdadeiros Heróis, homens e mulheres comuns que, inspirados por seus personagens infantis, seus ideais ou modelos domésticos, empunhavam suas bandeiras e seguiam sua marcha inexorável rumo ao “futuro melhor”.
Mas e hoje? O que posso dizer aos garotos e garotas que como únicos referenciais tem os maus, os enganadores, os mentirosos travestidos de baluartes da moral, os “mensaleiros” que vivem de pizza, os governantes imersos em cachoeiras de escândalos, os heróis que tudo resolvem à bala, os lares bipartidos, tripartidos ou inexistentes? Como falar de esperança para aqueles que não partilham outro modelo que não esse “bbbizzarro”, que não conhecem outra verdade que não essa editada, essa versão ou subversão que lhes é entregue por suas principais fontes de educação?
Questiono-me sobre o que direi a eles, ao tentar apresentar-lhes a possibilidade de um mundo melhor, de uma política ética, de uma sociedade includente e solidária, de uma proposição diferente para o fim que lhes serve de presente.

Marcos Marinho
Consultor e Professor de marketing Político na Faculdade Alfa.
@marinhomkt

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