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domingo, 3 de junho de 2012

Luiz Brasileiro – Do homem simples ao Rei Sol




Onipotência, capacidade até então atribuída a Deus, dado seu poder supremo sobre todas as coisas. Sem apelar para a religiosidade, apresento minha descrença pessoal em todo aquele que julga a si mesmo detentor de alguma forma de poder que sobrepuje os demais mortais.
Mantenho minha posição descrente frente a qualquer manifestação humana de onipotência, seja ela financeira, bélica, midiática ou até carismática, sendo essa última muito peculiar aos que estiveram em algum momento nos “braços do povo” - e por este feito acreditam que seus retratos ainda estampem paredes de casebres populares e entidades calcadas no assistencialismo. Entendo que ninguém é capaz de vencer todo tipo de adversidade que lhe venha sobre os objetivos, principalmente na dependência exclusiva de sua força.
Julgo contrassensual um político que se utilizou sabiamente do modelo do “Common Man”, do “homem simples” que, segundo o escritor Roger-Gérard Schwartzenberg, é uma das possíveis imagens que a população pode fazer de um político, transmutar-se para a imagem do Rei Sol, o qual propalava ser ele o estado. Se para alcançar o posto mais alto da hierarquia executiva de nosso país, vestir-se de humildade foi a roupa que melhor lhe apresentava, assumir agora uma postura soberba e agressiva frente ao processo eleitoral brasileiro, afrontando sorrateiramente sua legislação e, pior ainda, se colocando como capaz de “proibir” uma sucessão democrática ao governo da nação, me suscita questionamentos: “crise de identidade?” ou “simples substituição de papel?”
Como já sabia Marx, “toda hegemonia traz em si sua contra-hegemonia”, e desta forma penso que propalar-se decisor supremo dos destinos da nação, capaz de escolher quem lhe sucede e precede, engessando todo processo evolutivo de um país para que fique de acordo com sua visão unilateral do bem comum é gerar nas entranhas do sistema uma prole que cedo ou tarde requererá seu direito de lutar contra o regime que conhece por situação.
Manter-se presente no cenário político é mister aos que vivem de sua atividade pública, lutar por sua representatividade junto à sociedade faz parte da estratégia dos que almejam o poder, no entanto posicionar-se com força exacerbada, caricata, arrogante ou demagógica contribui para desconstruir a “boa” imagem que outrora representava seu nome, sua presença. Repintar o retrato fixado nas mentes de seus seguidores com tintas demasiadamente fortes pode causar-lhes desconforto e repulsa.
Ademais, afirmo que apontar armas aos quatro ventos, acreditando na blindagem popular adquirida por feitos passados, soa-me desinteligente e absurdo, principalmente em se tratando de um povo conhecido por sua falta de memória, que sobre as demandas coletivas sempre atua em prol das benesses individuais.

Marcos Marinho
Twitter: @mmarinhomkt

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