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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Café com Maquiavel – A tênue linha entre o oprimido e o novo opressor.



Maquiavel é um personagem conhecido por suas observações e ensinamentos sobre as formas de dominar e manter o controle sobre o povo.  Mesmo após séculos de sua morte, seus ensinamentos permanecem aplicáveis aos mais diversos tipos de governos, e são efetivamente utilizados por seus governantes. Com o passar dos tempos, seus artifícios foram ganhando adaptações e ferramentas que aparelham os obstinados pela dominação.
Em sua época, Maquiavel orientava príncipes que desconheciam a democracia, mas sabiam da importância de manter seus súditos em um nível mínimo de satisfação, mesclando equidistantemente os sentimentos de medo, gratidão, conformidade, participação e dignidade, para lhes manter de pé e prontos para defender seu rei e suas benesses garantidas dos ataques de outros conquistadores. Desde o século XVI o povo tem sido tratado de forma estratégica para não perceber que seus movimentos e pensamentos são tolhidos sutilmente pela habilidade dos que conhecem a manipulação como forma de manutenção do poder.
É sabido que a manutenção do poder, em vários momentos históricos, se deu pela força das armas, no entanto, de algumas décadas para cá, utilizar armas para manter o domínio popular não tem sido a melhor escolha, haja vista os conflitos na Síria e demais países do Oriente Médio, que deixam para os dominadores apenas escombros. Dominar um “reino” destruído, com um povo esfacelado, incapaz de prover riquezas ao seu governante, torna amargo o sabor da conquista. Essa é, sem dúvida, uma visão maquiavélica.
A relação de dominação que nós, brasileiros, conhecemos bem é econômica-social-intelectual. Somos subjugados em nossos direitos básicos, recebemos de nossos senhores apenas o necessário para mantermos um fio de esperança de uma vida melhor. Tal sentimento que, em um regime capitalista, é o combustível para que continuemos rodando a roda de ratos a que estamos presos, e que gera a energia necessária para manter o próprio sistema. Recebemos um arremedo de educação que serve para nos doutrinar quanto ao consumo das mídias, instrumentos utilizados para persuasão e controle social. Somos formados também para sermos executores de ordens, ou como ilustrou o grande Charles Chaplin, apertadores de parafusos que deixam suas mentes em seus travesseiros.
Aprendemos como tudo deve ser, como as coisas não podem ser mudadas, como somos incapazes de romper com os paradigmas, como não adianta tentar, como é mais fácil ignorar do que se envolver. Nós aprendemos que as coisas sempre foram assim, que o povo sempre será submisso, que o governo sempre sugará nossos esforços e retribuirá com serviços insuficientes, sabemos que nos tributará sobre nossos minguados ganhos para sustentar seus gordos proventos, proventos que sempre serão distribuídos entre os “nobres” que estão próximos aos imperadores que nos comandam.
Sendo franco, não condeno Maquiavel, pois, se por um lado capitulou informações para dominação, por outro nos deu ciência de como somos dominados. Temos hoje informações que podem nos mostrar como evitar a aquiescência subserviente e impor nossas condições para sermos favoráveis aos que momentaneamente ocuparão o cargo de gestores de nosso reino. Penso que ao decodificarmos as artimanhas dos dominadores, percebendo suas manipulações e dissimulações, poderemos reagir à altura, desconstruir as fábulas que querem nos empurrar goela abaixo, e apresentar nossas requisições para afiançarmos seu “domínio”.
Por sermos conscientes das formas de dominação e, principalmente, entendermos que sem povo não há governo, podemos barganhar melhor nosso apoio, nossa anuência aos projetos deste ou daquele requerente da “coroa” ou, no nosso caso, da faixa verde e amarela. Se dominássemos conscientemente a contra dominação, se não nos vendêssemos por meia dúzia de moedas, se nos preocupássemos com o coletivo antes do individualismo, faríamos jus à frase do personagem do filme V de Vingança: “não é o povo que deveria temer o governo, mas o governo deveria temer o povo!”.
Fica fácil, a partir destas impressões, entender por que os governantes insistem em manter o povo na ignorância, alimentando-o com migalhas e alienação, oprimindo-o com chantagens eleitoreiras e iludindo-o com cotas e reduções de impostos que nada mais são do que cortinas de fumaça para encobrir os interesses dos cortesãos e a carência dos governados. Nada fácil é a missão dos que já despertaram da catarse e lutam agora para acordar outras mentes mas encontram resistência destas - não por pertencerem às mesas dos dominadores, mas por serem equivocadamente satisfeitas com as migalhas que delas caem.
Penso que a falta de coragem dos oprimidos que já foram despertos de entrar pela porta da frente dos palácios, destituir os dominadores e assentar em seus lugares, além do comodismo, reside na dúvida se continuarão dignos, honestos e justos.

Marcos Marinho
Professor e consultor de Marketing.
twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br

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