Espaço destinado ao registro das percepções críticas de um cidadão brasileiro sobre política, comunicação, comportamento e demais assuntos pertinentes à sociedade contemporânea.
Uma visão técnica do ponto de vista do marketing e apaixonada do ponto de vista humano. Leia, critique e replique à vontade!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Homem, lobo mau do homem.




Thomas Hobbes, filósofo inglês da Idade Média, conhecido como “contratualista” por defender que a manutenção da sociedade, do Estado, depende da celebração de contratos que organizem e parametrizem as ações dos homens em suas relações, disse que: “o homem é o lobo do homem.” Neste texto serei obrigado a fazer uma adaptação deste pensamento, pois acredito que em nosso contexto, no século XXI, o Homem assumiu o papel de “Lobo dos Lobos”!
Hobbes ressaltava a equidade dos homens em relação aos seus desejos, falava não só das necessidades básicas, mas da visão que cada um fazia de si mesmo, se achando tão especial e único, que considerava ter maior merecimento do que o outro. Ao nos vermos como iguais, ignorando as diferenças fenotípicas que podem agregar maior vantagem ou desvantagem física a este ou aquele ser, pois estas podem ser subjugadas pela inteligência, estratégia e cooperação entre os mais fracos, nos deparamos com uma situação perturbadora: “Como administrar uma contenda onde todos possuem desejos comuns e legítimos, mas nenhum quer ceder à primazia do outro e não se predispõe a contribuir para o saneamento dos desejos de alguém antes do seu próprio?” Realmente o homem é o único capaz de devorar os sonhos do próprio homem!
Compartilho então da visão de Hobbes, e não acredito que os homens, se não por força de “contratos”, que podemos entender como leis, regras e hierarquias, conseguiria se manter em sociedade de forma democrática, produtiva e harmônica. Sendo assim coloco por terra qualquer levante anarquista que por ventura ainda rasteje nos porões de décadas passadas. Também digo do socialismo, que trago ao texto mais como uma filosofia marxista do que propriamente um regime político, que necessita de leis e normas, além de uma hierarquia clara que organize a imensa base de “iguais”, formada abaixo das casas gestoras. Sobre o capitalismo acredito ser desnecessário tecer comentários, pois já se evidenciam pelo texto acima.
Sendo assim entendo que não poderíamos viver e conviver em um Estado sem leis, sem gestão. Temos então, necessariamente, algumas “coleiras” que impõem limites e controles aos lobos que andam nas ruas de nossas cidades. Agora vem a parte onde parafraseio o autor citado neste texto, e apresento minha ideia sobre ser o homem, “o lobo dos lobos”:
Vivemos sob uma infinidade de leis, apesar de transcritas em um código defasado e pouco aplicado, temos regras e instituições normativas e coercitivas com a função determinada de nos manter dentro dos parâmetros legais, nos permitindo construir, conquistar, conviver, questionar, julgar e apenar aqueles que se colocarem de encontro ao estabelecido. Porém isto não tem sido suficiente para evitar que os “lobos” intimidem os homens, e passem a disputar entre si quem é o lobo capaz de horrorizar e subjugar os outros lobos.
Vemos cotidianamente estampadas em todas as mídias, as manchetes sobre lobos destruindo vidas de homens inocentes, vemos lobos tão raivosos que estraçalham crianças para satisfazer sua loucura motivada por sentimentos e necessidades que provavelmente nem “Freud explicaria”.
Nossas instituições não estão sendo suficientes para controlar os lobos, nossas leis já não os coíbem, talvez por crerem que não lhes causarão mal. A violência é, sim, uma característica humana, entranhada em nosso DNA animal, porém éramos animais que se valiam dela apenas em situações extremas, e hoje vemos essa violência manifestada de forma banal, por diversão, perversão e pura maldade.
Alguns homens-lobo exteriorizam sua violência de forma velada, desviando e surrupiando verbas públicas que deveriam beneficiar milhares, mas acabam em cuecas, meias e contas em paraísos fiscais. Outros se valem das armas para humilhar, machucar e dizimar seus semelhantes, externando uma agressividade que deixaria os lobos horrorizados. Vemos então que não basta apenas ao “homem lobo do homem” a dominação para sanar suas carências, ele quer ser o mais forte lobo entre os lobos, impondo suas vontades e suas loucuras acima de qualquer traço de humanidade que o constranja.
Já temi o animal dentro de cada homem, hoje temo o homem dentro de cada animal! Afirmo que ainda não perdi completamente a fé na raça humana, bem como nas leis e nas instituições responsáveis por sua aplicação. Mas digo que é sine qua non à sobrevivência das cidades que nossa legislação seja revista, nossas instituições sejam reformadas e nossos cidadãos se enxerguem como parte da solução para os problemas que os assolam, e não apenas como vítimas deles.
Estamos todos expostos aos lobos maus, principalmente quando aqueles que juraram “proteger e servir” estão de braços cruzados, mas não podemos aceitar apenas o papel de “caça”, pois somos, também, uma parte lobo e, por isso, caçadores. Provavelmente por sermos nós, pessoas de bem, cientes de nossa maior proporção humana, que mantém enjaulada nosso lobo interior, tenhamos mais dificuldade em confrontar o mal com o mal, neste caso acredito que devamos atuar como alcateia, nos protegendo uns aos outros, buscando meios de sobrevivermos em conjunto e nos defendendo daqueles que tentam diuturnamente nos matar, roubar e destruir.
Ainda que o homem continue sendo lobo do homem, não podemos permitir que este lobo cresça e se sobreponha aos outros homens, voltando a ser um animal irracional. Se o lobo está dentro de cada um, como agir para evitar que sejamos dominados por ele? Para evitar que os que o são não se constituam em maioria?

Marcos Marinho
Professor e consultor de marketing
Twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br

domingo, 21 de outubro de 2012

O que vou ser quando crescer?



Tenho questionado algumas coisas no comportamento de nossa juventude: atitudes ou, na maioria das vezes, falta de atitudes que são preponderantes para o desenvolvimento pessoal e profissional dentro desta sociedade. Tais atitudes, a mim sinalizam, com elevado grau de acerto, como será o amanhã de nosso país, visto que o passar de gerações é inerente à própria vida.
Em minha experiência em salas de aula, conversando com minha esposa que também milita neste front, além de diálogos com amigos e colegas de cátedra, tenho percebido que existe uma distorção perigosa nas “expectativas” demonstradas pelos alunos. Ao falar de expectativas não adentro o mundo das paixões e sonhos românticos, pois acredito serem deveras íntimos e pessoais, tornando-se um campo próprio para os devaneios, erros e acertos. Inquieta-me, e também aos colegas com quem tenho dialogado, os níveis das expectativas que nossos pupilos demostram sobre suas aspirações profissionais. Também incomoda a falta de expectativa com a carreira aparentemente escolhida, que é demonstrada por outra parcela dos discentes.
São comuns as declarações do tipo: “quero ser gerente!” ou “quero ser diretor!”, bem como as tradicionais perspectivas salariais equivocadas: “quero um salário de R$5.000,00 no mínimo!”. Nada contra o “almejar” uma colocação de destaque ou uma remuneração interessante, porém é preciso que os objetivos estejam pautados em metas claras e planos de ação que sejam postos em prática para conquistar estes ideais.
Nesse ponto é que reside minha frustração! Geralmente estas frases, aparentemente otimistas e determinadas, são acompanhadas de comportamentos que as contrapõem. Ao serem questionados sobre seu nível de conhecimento em relação aos mercados em que querem atuar, ou aos requisitos necessários para ocupar o cargo almejado, as respostas são vagas ou nulas. É isso: querem ganhar bem e comandar, mas sem passar pelas etapas que os conduzirão ao status pretendido. Querem ser reconhecidos como diferenciados e especiais, mas sem galgar os degraus que separam o sonho da conquista.
É preciso expor nossos alunos à realidade! De forma alguma frustrá-los os sonhos, mas darmos-lhes as ferramentas e o conhecimento compatíveis com o que encontrarão pela frente ao deixarem os bancos da academia. É imprescindível que entendam como funciona a dinâmica dos mercados, como é importante a humildade e capacidade de se relacionar, a inteligência interpessoal que lhes permitirá iniciar seu networking já nas cadeiras da faculdade, expandindo suas relações por caminhos que certamente lhes serão úteis nas carreiras.
Não podemos considerar normal a apatia frente aos exercícios propostos, as reclamações sobre os trabalhos que lhes são passados, a falta de habilidade para se organizarem em grupos, deixando prevalecer sentimentos menores e que, no “mundo real”, nas empresas onde buscarão seus sustentos, não encontrarão eco, pois terão que conviver com as diferenças de forma compulsória.
Futuros profissionais que não se permitem realizar estágios, por considerarem indigno o valor da bolsa, ou muito distante o local de trabalho, ou por não estarem dispostos a prescindir dos feriados emendados e de seus sábados pela manhã, sem avaliar os ganhos em níveis de experiências e exposição de suas habilidades, demonstram não entender que os caminhos naturais para o sucesso passam pelo esforço, trabalho e dedicação. Ignorando estes fatos, surgem com afirmações do tipo que relacionei no terceiro parágrafo deste texto, muitas vezes apoiados por pais permissivos ou castradores, e/ou ancorados em sobrenomes ou pseudoposição social.
Serve-me ainda de base esta reflexão para expandí-la sobre a atuação de nossos jovens frente à política e às questões sociais, onde pudemos recentemente perceber que também “não estão a fim” de falar disso. Mais uma pena, se avaliarmos que desta geração sairão os futuros profissionais de mercado, gestores, pais e mães, educadores, políticos e executores de todas as funções que dependem da renovação natural.
Admiro profundamente o estudante que coloca seu aprendizado como meta para alcançar seus sonhos, que luta para conquistar seu espaço de forma independente e aguerrida. Acredito nas pessoas que buscam o aprimoramento de forma engajada, participando dos processos e experiências das mais variadas, sem melindres, cheios do desejo de adquirir know-how, e se colocam aptos às oportunidades vindouras.
Entendo que apenas uma pequena parte da real formação de uma pessoa cabe ao professor, boa parte cabe aos seus pais e, nesse momento, faço um a apelo aos pais e mães que lerão este texto: “acreditem, apoiem e eduquem, seus filhos!”. Acredito que todos, independentemente das vantagens ou desvantagens que recebem da vida, temos responsabilidade por nossos atos, por nossas vitórias ou fracassos, não podendo assim franquiar nossos sonhos ou desilusões aos outros.
Sendo assim, faço um último apelo aos jovens que estão lendo estas linhas: “Descubram o que lhes motiva, aceitem as dificuldades inerentes ao percurso, invistam em ser quem sonham ser, mas, principalmente, ajam enquanto é tempo!
Marcos Marinho
Professor e Consultor de Marketing
twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br

sábado, 13 de outubro de 2012

Eleições 2012 – O que deixamos nas urnas?


É findo o pleito de 2012, em que as cidades brasileiras tiveram a oportunidade de realinharem-se, renovarem-se e até manterem-se do mesmo jeito. O voto popular mais uma vez foi o meio “pacífico” utilizado pela sociedade para manifestar suas opiniões, frustrações e desejos.
Após três meses de campanhas eleitorais, apoiadas em estratégias desenhadas por hábeis profissionais de marketing, ou em alguns casos não tão hábeis assim, os vencedores foram conhecidos no último dia 07 de outubro na grande maioria do nosso território. Alguns embates ainda perduram, pois os candidatos que foram para o 2º turno terão mais alguns dias para convencer a população que num primeiro momento não lhe confiou seu apoio a concedê-lo em definitivo no dia 28 de outubro.
O que me chama a atenção é justamente o que deixamos nas urnas eletrônicas neste ano. Em uma análise geral, podemos perceber que registrados nas maquininhas ficaram não apenas os votos, mas principalmente as impressões e tendências eleitorais que moveram nossos cidadãos neste pleito. Com uma atenção especial para os quase 13 milhões de votos brancos e nulos depositados nas urnas Brasil afora e, em especial aos 18,72% dos votos dos goianienses que foram depositados em branco ou anulados, invalidando quase 140 mil votos que acabariam por formar, caso fossem dados a um candidato, o segundo mais votado para a cadeira do executivo goiano.
Muito se falou durante o período eleitoral sobre a apatia das campanhas e em conseguinte do eleitor que, aparentemente não se engajou nas bandeiras levantadas e assim não engrossou fileiras ao lado dos candidatos propositores. Situação que pode nos conduzir por alguns vieses, me permitindo tecer certas conjecturas a respeito da mensagem emanada das urnas de 2012.
Amplamente divulgado na mídia nacional, o caso “Cachoeira” parece ter levado em sua correnteza não apenas figuras célebres da política goiana, mas também a crença e esperança de boa parte da população. Responsabilizada também, em partes, pela falta de investimento nas campanhas municipais, o escândalo com o contraventor anapolino forçou muitas mudanças de estratégia por parte dos envolvidos nas campanhas, bem como deixou a população com um desejo de vingança que, de certa forma, foi expresso pela suspensão do voto em figuras que tiveram manifestas relações com o bicheiro.
Outro evento que também serviu de munição em algumas campanhas foi o julgamento do “Mensalão”, o que expôs sobremaneira as entranhas do Partido dos Trabalhadores, tornando réus, e atualmente condenados, alguns dos principais nomes da sigla. No entanto este fato irrompeu com impactos díspares nos segmentos da sociedade. Enquanto alguns candidatos tentavam usar o fato para atacar os oponentes, a população o interpretava de diferentes formas, passando pela absolvição do partido, mas aceitando a condenação dos envolvidos, a uma tentativa de negação e imputação de tudo a algum tipo de golpe midiático direitista. Chego a pensar que o povo, em muitos casos, se entregou ao sentimento de redenção estampado nos mantos pretos dos juízes do supremo, que condenavam indiscriminadamente os envolvidos, abstraindo de siglas e regozijando-se na punição dos considerados culpados. Essa última opção, a meu ver, traz em si uma dose de esperança que pode em muito transformar o desânimo ressaltado em toda análise política feita ultimamente, desembocando em vários desdobramentos futuros.
Em minha análise do pleito de 2012, avalio que houve muitos erros de campanha, sendo por estratégias equivocadas e/ou linhas de comunicação que não alcançaram o coração do eleitor. Vivemos um momento econômico e social onde o acesso à informação tornou-se mais fácil, nossa sociedade foi remodelada a partir dos padrões classistas, expandindo-se dentro de um espaço onde lhe é permitido consumir e exigir formas e conteúdos diferenciados.
É mister aos políticos e profissionais que atuam na área reavaliar suas considerações sobre o comportamento dos eleitores, suas necessidades, sua sensibilidade aos habituais canais de propaganda política, bem como seu nível de ceticismo sobre o que lhes é proposto e  sua suscetibilidade à opressão financeira ou moral.
Acredito que saímos deste pleito melhores do que entramos!
Haverá um período de realinhamento e articulações essenciais aos partidos e figuras políticas, para que possam se preparar par enfrentar os novos eleitores que surgirão em 2014. Teremos também neste entre pleitos uma evolução da sociedade que, mesmo ainda não compreendendo toda sua força ou o efetivo reflexo de suas atitudes, manifestou-se através do voto anulado ou branco de forma consciente, ainda que não eficaz juridicamente e, por este motivo, não me parecer efetivo, a manifestação dos desiludidos foi ouvida por todos os envolvidos na política e desta forma será muito considerada na elaboração das estratégias para as próximas campanhas.
Deixamos nas urnas de 2012 muitas esperanças e desesperanças, uma enorme e inconteste mensagem de que as coisas precisam mudar neste país, uma sinalização de que o povo começa a se movimentar em direção ao boicote eleitoral e por isso exige ser tratado com mais ética, transparência e honestidade.
Espero que até as próximas eleições não haja uma hibernação da consciência política do nosso eleitor, para não deixar ao esquecimento o papel de balizador dos próximos resultados que poderão de vez mudar nossa história.
Marcos Marinho
Professor e Consultor de Marketing
@mmarinhomkt /www.mmarinhomkt.com.br