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domingo, 18 de novembro de 2012

LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN



Nesta última semana tivemos uma pesquisa, divulgada em veículos de comunicação impressos e digitais, abordando a percepção da classe média brasileira sobre a democracia. Sob o título: “A classe média, o Estado e a Democracia”, a pesquisa entregue à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência pelo Instituto Data Popular, de São Paulo, nos trouxe um dado extremamente preocupante - 51% dos pesquisados concordaram com a frase: “Prefiro uma ditadura competente a uma democracia incompetente”.
Invariavelmente surgem questionamentos do tipo: esse pessoal realmente sabe do que está falando? Eles efetivamente conhecem um sistema ditatorial? Viveram na época da ditadura?
É interessante pensar que por desconhecimento ou, talvez por desespero, as pessoas concordem em ceder sua liberdade em troca do saneamento de suas demandas. De qualquer forma esta pesquisa sinaliza, a meu ver, algumas possibilidades bastante desconcertantes para os atuais líderes políticos de nosso país. Se mais da metade da classe média cogita apoiar um regime ditatorial, caso suas necessidades básicas sejam atendidas, suplantando essa atual “democracia” representada pelos políticos e seus partidos - exatamente por estes não solucionarem os problemas sociais e, pior, apresentar à população uma imagem extremamente negativa - podemos entender que o grau de decepção dos eleitores com seus escolhidos e com o próprio sistema está chegando a níveis críticos!
Outra possibilidade, teórica, que me chama a atenção é a confirmação de que Maquiavel estava certo, e o povo prefere se submeter a um líder que lhe castre alguns direitos, mas lhe proteja, alimente e entretenha, do que a líderes que lhes deixem livres, à própria sorte, e ainda lhes cobre taxas, impostos e obediência. Percebo, já há algum tempo, que existe uma relação feudal consentida entre o povo e seus governantes. Se o povo tem suas necessidades básicas atendidas, sensação de segurança, e recebe “carinho” do seu governante, tolera o domínio e possíveis arbitrariedades e desvios de conduta de seu dominador. Ao ter seus interesses atendidos, lhes é coerente fechar os olhos para fatos que, aparentemente, não lhes afetam diretamente, como desvios de verba e articulações escusas entre partidos, políticos e empresas, geralmente amenizados por um “isso todos fazem!”.
Se realmente o que a pesquisa mostra é que 51% da classe média brasileira, hoje nossa maior parcela da população, aceitaria uma ditadura em troca de gestão de serviços, podemos avaliar que cada entrevistado ignorou sua parcela de liberdade, talvez por não exercê-la na plenitude, ou por, já de maneira natural, não se manifestar contra o sistema, desconsiderando como a suspensão de direitos poderia impactar na vida de seus concidadãos, e decidiu entrar de vez na roda de ratos que o sistema lhe proporciona: comida, abrigo e trabalho, sem horizonte e possibilidades para se preocupar.
Não existe melhor sistema político do que uma democracia verdadeira, plena, onde todos podem emitir sua opinião, participar das decisões e opinar, ainda que somente pelo voto, sobre as questões que envolvem sua vida. A culpa não é do sistema, pois este simplesmente é operado pelos homens. O grande problema é que atualmente, os que se dispuseram a governar, em sua maioria, o fizeram pelo bem próprio e não comum. Grande parte dos homens e mulheres que assumiram a tarefa democrática de representar o povo se utiliza dos meios democráticos de forma deturpada, para exercer o papel da corte nos períodos feudais, onde tudo “era para o rei e os amigos do rei, e para o povo apenas as expensas”. No entanto, por esse mesmo regime democrático, nós, o povo, podemos, mas não fazemos, nos manifestar, criticar, substituir, expulsar e depor quem acharmos inadequado na função que ocupa, e não o fazemos porque não nos dispomos a acompanhar o processo, a ir para as ruas, a romper com a inércia ditada pelo comodismo subserviente dos que aceitam viver em feudos que lhes garanta a subsistência, o pão e o circo.
Não me falem em ditadura! Não me digam que preferem um sistema coercitivo e opressor em troca de meia dúzia de benefícios. Essa afirmação é tão estúpida que chega a doer os ouvidos!
Já que estão dispostos a entregar suas vidas nas mãos de homens que decidirão seus passos, que os farão cumprir regras e normas às quais, atualmente, os senhores e senhoras não cumprem, em sua maioria, simplesmente por não terem cacetetes os ameaçando, policiais diuturnamente reprimindo suas atitudes, mecanismos opressores que os obriguem a cumprir seu papel de “cidadão”, o façam, mas antes avaliem se conseguirão seguir o padrão militar que os espera.
A corrupção acaba quando todos a expulsarem de suas vidas, a má gestão acabará quando todos se dispuserem a exigir melhor qualidade nos serviços, os maus políticos sairão quando todos decidirem parar de eleger e reeleger bandidos, o país melhorará quando todos decidirem serem cidadãos, por decisão e não por coerção.

Marcos Marinho
Twitter: @mmarinhomkt
www.mmarinhomkt.com.br

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