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domingo, 2 de dezembro de 2012

Política em tempos internet – Caiu na rede é da rede!


A imagem dos políticos brasileiros está bastante ruim aos olhos da sociedade. Com sucessões de escândalos, denúncias, investigações, “CPI’s pizzaiolas” e um eterno “eu não sabia de nada”, nossos representantes enfrentam um cenário cada vez pior em sua luta pela manutenção do capital político.
Em uma avaliação desapegada de exatidões estatísticas, podemos considerar este ano de 2012 como sendo o mais recheado de momentos polêmicos no ambiente da política. E olha que não tivemos um pleito tão conturbado como alguns de outrora! Então o que nos resta é conjecturar que, neste ano, houve um aumento expressivo de maracutaias e falcatruas - certamente a oposição aposta na amplificação desta imagem para desconstruir o atual governo -, ou que estamos vendo uma atuação mais apropriada da mídia e dos órgãos de investigação e justiça, que está colocando luz sobre trevas que dominam grandes porções dos bastidores políticos de nosso país há dezenas de anos.
Acredito que todo o lixo que está emergindo dos bastidores do poder jazia ali acumulado há vários mandatos, e fora alimentado por muitas siglas que hoje posam de paladinos da moral. Também acredito que evocar a possível benção da ignorância não diminui a responsabilidade dos líderes que se dizem traídos por lobos em pele de cordeiro. Todos sabemos que não existem cordeiros neste pasto! Soa-me como o cúmulo da incompetência, e por isso teria receio de usar deste expediente, um proeminente líder político, aclamado como estrela maior do seu partido, a cada nova acusação contra seus liderados, posar de vestal e eterno traído.
Olhando toda essa profusão de denúncias, manifestações, acusações, retaliações e condenações impelidas aos estadistas nacionais, se fosse um deles sentiria medo. Na verdade sentiria, se na pele deles, um extremo pavor da tecnologia! Digo isso, pois considero que a acessibilização aos meios de comunicação, em especial, à internet, trouxe consigo uma ameaça à qual nossos políticos não estavam acostumados: a manifestação imediata da “opinião pública”. Como já escreveu meu grande mestre Carlos Manhanelli: “Sabemos que os meios de comunicação afetam profundamente as atitudes da comunidade, as estruturas políticas e o estado psicológico de todo um país, pois a alfabetização não é pré-requisito para assimilação de conhecimentos provenientes do mundo eletrônico.”
Se, como muitos acreditam, os governos que se sucederam não tiveram interesse em formar uma população pensante, relegando a educação ao quinto plano na escala de prioridades, por medo de gestar uma sociedade com um nível de crítica e articulação difícil de ser manipulada, os meios de comunicação lhes deram uma rasteira. Sem desconsiderar, como já relatei em artigos anteriores, a manipulação editorial das informações, tenho que admitir que a ação coordenada entre governos e mercado para transformar nossa sociedade em zumbis consumidores trouxe em si um efeito deveras colateral. Mesmo não estimulando uma formação educacional crítica e questionadora, dentro de nossa sociedade sempre existiram os “subversivos intelectuais”, que disseminam suas análises políticas, fazem duras críticas ao sistema e questionam tudo e todos, mas que até então ficavam reservados a guetos elitistas ou esquerdistas, se é que ainda faz sentido subdividir as ideologias políticas.
As manifestações de apoio e, principalmente, descontentamento são cada vez maiores e mais articuladas através das redes sociais. Vivemos um momento no mundo das comunicações onde as pautas não são apenas geradas em escritórios burocratas ou gabinetes parlamentares. Com a acessibilidade tecnológica aos meios de divulgação de textos, sons e imagens, todo vivente que possui um simples smartphone passa a ser produtor de conteúdo, o que, abstraindo irresponsabilidades e banalidades, passa a ter uma relevância crescente nas editorias jornalísticas e gabinetes políticos.
Com a velocidade de um click, milhões de mensagens são compartilhadas nas ondas da web. Agindo de forma viral, milhares de conteúdos se espalham pelo mundo e ecoam algumas vezes de forma extremamente impactante nas sociedades. Uma declaração impensada, uma medida impopular, uma ação destemperada ou uma simples medida de contenção de despesas municipais, podem tomar proporções capazes de fazer ruir impérios. A imagem construída em décadas de exposição midiática convencional, de empresas e figuras públicas como artistas e principalmente políticos, se percebe ameaçada em questão de segundos quando de forma negativa vai figurar entre os TT’s (Trending Topics) do twitter.
Agindo de modo desenfreado e de impossível contenção, pois o que cai na rede pertence à rede, as mensagens de retaliação e repúdio a figuras políticas e suas declarações funcionam como uma colônia de cupins que se instala em um grande e imponente móvel de luxo, passando a devorá-lo por dentro e deixando, em pouco tempo, apenas a casca que certamente ruirá.
Nosso políticos não estão preparados para enfrentar as novas pautas noticiadas pelos milhões de novos “editores” cibernéticos, assim como as empresas também não estão, e por isso muitos ainda tentam se manter distantes das redes de www. Grande engano, pois, definitivamente, mesmo não estando nas redes você estará! O nível de atenção ao que se diz, ou ao que dizem que foi dito por figuras públicas, bem como a monitoração da sua imagem virtual, deve ser ocupação primeira de assessorias e assistentes parlamentares.
Muitas mudanças ainda ocorrerão no mundo world wide web, muitas mudanças culturais e de hábitos permearão nossa sociedade, muitas posturas e utilizações deverão ser revistas sobre este tema. O Marco Civil Regulatório ( PL 2126/2011), aguarda considerações e votações para ser implementado, fato que deve ser observado com muito critério por toda sociedade, a fim de evitar cesuras e parametrizar seguranças para seus usuários.
Finalizando, é sine qua non ao desenvolvimento de nossa sociedade que a informação circule de maneira livre entre todos. É extremamente importante a manifestação de opiniões, a colocação de luz sobre os sombrios segredos dos bastidores da política nacional, e o acompanhamento do desenrolar dos escândalos para que estes não se recolham aos porões do esquecimento. Acredito na democratização da geração de conteúdo, na internet como ferramenta de mobilização e contestação, nos meios digitais como um modo de educar nosso povo e torná-lo mais engajado nas lutas por seus direitos.

Marcos Marinho
Professor e consultor político
Twitter: @mmarinhomkt
Contato: marcos@mmarinhomkt.com.br

Um comentário:

  1. Brasileira está preocupado com carnaval. Acham que político não é problema dele.
    Por isto acontece de tudo.
    beijos!!

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