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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Não sabemos protestar, mas sabemos o que queremos: respeito!

Difícil explicar tudo o que aconteceu em Goiânia no dia 20 de junho de 2013, confesso que ainda estou processando. Grosso modo, posso dizer que foi a maior manifestação política já presenciada por muitos daqueles que dividiam espaço comigo no asfalto do centro da cidade. Empiricamente deduzo que éramos mais de cinquenta mil.

Desorganizados e sem saber direito como protestar, pude ver toda miscelânea cultural de nossa sociedade entremeada por faixas, cartazes e gritos de ordem, marchando pelas principais ruas e avenidas que circundam as casas do poder em nossa cidade. Senti orgulho.

Agora surgem controladores entre a multidão, que assim como tias velhas e chatas criticam a incoerência inocente daqueles que não foram doutrinados em suas cartilhas de engajamento político. Reclamam que ali estavam pessoas que não conheciam as regras básicas dos protestos sociais e assim ficavam perambulando sem foco, ou pelo menos sem o foco que eles queriam dar à manifestação.

Como disse Castro Alves: “A praça é do povo! Como o céu é do condor”. E isso é o mais importante neste momento, ver que o povo ocupou seu espaço. Independente de bem treinados ou não, se doutores em protestos ou meros agitadores de cartazes cômicos, tenho certeza que este movimento cumpriu sua missão. Despertadas foram muitas mentes jovens que não sabiam existir vida fora das telas de computador, mentes idosas que viviam no saudosismo de suas passeatas contra a ditadura, mentes infantis que se quer sabiam o que significava tudo aquilo, mas entendiam a importância de participar.

Não é com uma passeata que mudaremos o país. Muito menos ficando em casa presos em um mundo de reclamações e banalidades virtuais. Precisamos educar a população. É dever dos mais politizados disseminar este tipo de conhecimento àqueles que dele carecem. Os que criticam a falta de seriedade e objetividade dos manifestantes de primeira viagem deveriam desenvolver projetos para contribuir com seu amadurecimento político, com sua evolução para o nível de cidadãos.

Os milhares que foram às ruas de Goiânia, mesmo sem saber como proceder são mais corajosos do que os pseudo-politizados que se escondem por detrás de máscaras, bandeiras e discursos raivosos. Estes com toda sua experiência de militantes aguerridos e coléricos se quer conseguem engajar meia dúzia de gatos pingados em suas fileiras. Não cientes de suas incongruências, preferem atacar aqueles que chamam de “sociedade fascista e burguesa da classe média”. São tão néscios que desconhecem a atual pirâmide social deste país, e sua estreita relação de dependência com esta classe que tentam agredir.

Foi dado um grande e importante passo em direção à redemocratização do Brasil. Essa força emergente dos desgostos populares, que foi alimentada pelo descaso e corrupção de alguns mandatários, definitivamente coloca toda classe política contra a parede e grita aos seus ouvidos: chega!

Governantes, legisladores, juristas, emissoras de TV, enfim, todas as esferas do poder não poderão mais nos tratar como zumbis alimentados por engôdos televisivos e bolsas “sei-lá-o-quê”.

É premente a este movimento prosseguir em direção às urnas de 2014. Mas para isso, precisamos chamar as pessoas que se dispuseram a marchar por motivos ainda difusos, e lhes colocar lentes capazes de maximizar suas visões políticas. Precisam entender que como diria Aristóteles, são “animais políticos”. E isso é o que lhes permite conviver em sociedade. Precisam conhecer nosso sistema político, a incumbência de cada um dos poderes que nos regem, a finalidade dos partidos e representantes políticos.

Falando em representantes, é bom que os mesmos saibam que estão colhendo o que plantaram. Toda descrença, desrespeito, desconfiança e repúdio foi cultivado pelos próprios, a cada pizzada nas CPIS do congresso, a cada escândalo motivado por corrupção e desvio de verbas, a cada brasileiro vitimado pela violência ou falta de assistência médica. Precisamos de um resgate de valores, credibilidade e legitimidade representativa urgente.

Ao povo a educação, aos governantes e legisladores a exortação, ao país nosso engajamento e certeza de que não mais nos prostraremos de joelhos frente àquilo que o prejudica e nos prejudica.

Viva o povo goiano, viva o povo brasileiro, viva os dias melhores que merecemos viver.

Marcos Marinho
Professor e Consultor político

Twitter: @mmarinhomkt

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