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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Moço, esse candidato é Friboi?

Entre as noticias do meio político, veiculadas pela mídia e redes sociais, frequentemente está o nome José Batista Júnior. Figurando como um dos declarados pré-candidatos ao Palácio das Esmeraldas, em 2014, Júnior do Friboi é o único que ainda não possui validação nas urnas de sua imagem política. Fato este que o transforma em uma incógnita política.

Independente dos milhões investidos em diversas campanhas por todo estado de Goiás, em apoio a vários políticos em pleitos anteriores, seu nome ainda não passou por este crivo, não foi aprovado ou rejeitado pelo voto popular, não lhe permitindo contar apenas com transferências de votos de seus apoiados eleitos.

Sendo JB Friboi um dos mais ávidos pré-candidatos ao governo goiano, seu comportamento vira-e-mexe é notícia nos meios de comunicação. Sobre este comportamento vemos e ouvimos, quase em uníssono, dizeres explicitando suas tentativas de conquistar apoio da maioria do PMDB, bem como uma declaração de desistência de Iris Rezende e, enfim, sua benção.

Mesmo concordando que sua candidatura não se sustenta sem o engajamento do líder maior do partido, Iris, acredito que manter tanta energia apenas canalizada na obtenção de declarações partidárias de apoio pode não ser o suficiente para a conquista do objetivo PMDBista, que é assentar um dos seus na cadeira mais importante do estado.

Uma pergunta que se faz necessária é: o povo goiano reconhece Júnior Friboi como líder político? Mesmo com muito trabalho para criar uma imagem de homem público engajado nas questões políticas, a distância entre o Júnior político e o Júnior empresário, na mente do goiano, é grande. Observando tanto esforço no âmbito partidário, questiono se seus estrategistas também estão distribuindo ações a fim de contemplar uma aproximação com o eleitor.

Enfrentando resistências dentro do partido que escolheu para viabilizar sua candidatura, Júnior se esquece de que sem densidade eleitoral não há vitória nas urnas, mesmo com toda trindade do partido rezando sua cartilha. Sem ter participado de eleições anteriores, o único caminho para o empresário-político é buscar aproximação com povo e conquistar-lhe o coração. Se o povo não enxergar em Júnior Friboi o líder que o guiará para longe dos problemas de segurança, saúde, educação e infraestrutura que o consome, não serão pelo mugir de seu berrante ou pela transferência de apoio de outros políticos que sua vitória será construída.

É fundamental que o pré-candidato José Batista Júnior reduza os comportamentos e atitudes de empresário, abandonando a imposição - mais aceitável no ambiente corporativo - passando a compreender a velocidade e articulação próprias do ambiente político.
É hora de fazer surgir a imagem do político Júnior Friboi, aproximando-a do povo que anseia por um novo líder, a fim de ter seu nome aclamado acima de qualquer estratagema partidário, pois nenhum partido ou político pode ignorar o clamor popular a caminho das urnas.

Marcos Marinho
Professor e consultor político

Twitter: @mmarinhomkt

domingo, 18 de agosto de 2013

Quem representa os “coxinhas”? – Política e a nova classe média.



Definitivamente a política brasileira não está preparada para o fenômeno de expansão da nova classe média brasileira. Aferida pela Fundação Getúlio Vargas, a sociedade brasileira já em 2008 passou a ser composta por 53,8% de pessoas acima da linha da pobreza, com bom poder de consumo e difusas aspirações individuais e coletivas. Este fato impacta fortemente as relações políticas do país.
Ainda mal interpretada pela classe política, e pelos próprios governos, esta classe média encontra-se desassistida e sem representação nas câmaras e assembleias. Não contemplada por planos e projetos, nem veiculada em propagandas partidárias e governamentais, a nova classe média segue experimentando a “dor e a delícia” de depender unicamente de seus proventos e limites de crédito, e arcar com os custos elevados dos serviços básicos e impostos.
Não sendo merecedora de bolsas e assistencialismos, a nova classe média passa por um processo de choque de realidade. Elevada ao céu do consumo financiado, incorpora em sua despesa mensal, além das novas aquisições tecnológicas, planos de saúde, escolas particulares, altas alíquotas de impostos, seguros, veículos e combustível. Passa a sentir na pele a ausência de políticas que beneficiem e fomente o empreendedorismo, a redução da carga tributária, a expansão e melhora de qualidade nos serviços públicos. Desta forma a nova classe média, assim como a classe média tradicional, confronta-se com a duplicidade de pagamentos de serviços que legalmente deveriam ser ofertados pelo governo.
Na esteira das aspirações de consumo da nova classe média, obviamente estão as novas preocupações sociais e políticas deste grupo, agora menos suscetível ao tipo de promessas e campanhas tradicionalmente feitas durante os pleitos majoritários e proporcionais.
Trago o questionamento sobre como os partidos e políticos estão se preparando para interagir com esta maioria de eleitores em processo de transformação. Transformação em suas aspirações pessoais, profissionais e sociais, todas permeadas pelas relações e decisões políticas.
Não podemos esquecer que essa promoção social foi ocasionada pelos governos que atuaram para estabilizar a economia, gerar empregos e oportunizar o consumo àqueles que anteriormente não dispunham dessas condições. Ironicamente podemos permitir uma analogia com um adágio antigo: “quem cria cobra acaba sendo picado”, ou seja, o governo fomentou uma ascensão social a uma grande parcela da população, porém não se preparou para atende-la em suas novas demandas.
Exemplo deste descontentamento da classe média vindo à tona foi a participação dos “coxinhas” nas manifestações de junho de 2013 - fenômeno amplamente debatido e questionado por militantes de esquerda, que não estavam acostumados a ver pessoas em roupas de marca e carros novos gritando contra o sistema.
Alguns grupos sociais, até mesmo dentro da academia, rotularam os manifestantes da classe média - exemplos do consumismo capitalista- de “coxinhas”, e passaram a questionar a legitimidade de seus gritos contra governos e propostas de emendas constitucionais. Porém os participantes desta discriminada classe se enxergam como inquisidores legítimos de seus direitos, e o são. Desta forma, mesmo que ridicularizados por uma parcela mais radical e esquerdista do processo político social, partidos e candidatos tem por obrigação se aproximar deste grupo e passar a compreendê-lo, sob pena de encontrar nos próximos pleitos 53,8% de eleitores que dirão em suas caras: “vocês não nos representam!”.

Marcos Marinho M. de Queiroz
 Consultor político membro da ABCOP. Professor de graduação e extensão da PUC-GO.

Twitter: @mmarinhomkt