Definitivamente a política
brasileira não está preparada para o fenômeno de expansão da nova classe média
brasileira. Aferida pela Fundação Getúlio Vargas, a sociedade brasileira já em
2008 passou a ser composta por 53,8% de pessoas acima da linha da pobreza, com bom
poder de consumo e difusas aspirações individuais e coletivas. Este fato
impacta fortemente as relações políticas do país.
Ainda mal interpretada pela
classe política, e pelos próprios governos, esta classe média encontra-se
desassistida e sem representação nas câmaras e assembleias. Não contemplada por
planos e projetos, nem veiculada em propagandas partidárias e governamentais, a
nova classe média segue experimentando a “dor e a delícia” de depender
unicamente de seus proventos e limites de crédito, e arcar com os custos
elevados dos serviços básicos e impostos.
Não sendo merecedora de
bolsas e assistencialismos, a nova classe média passa por um processo de choque
de realidade. Elevada ao céu do consumo financiado, incorpora em sua despesa
mensal, além das novas aquisições tecnológicas, planos de saúde, escolas
particulares, altas alíquotas de impostos, seguros, veículos e combustível.
Passa a sentir na pele a ausência de políticas que beneficiem e fomente o
empreendedorismo, a redução da carga tributária, a expansão e melhora de qualidade
nos serviços públicos. Desta forma a nova classe média, assim como a classe
média tradicional, confronta-se com a duplicidade de pagamentos de serviços que
legalmente deveriam ser ofertados pelo governo.
Na esteira das aspirações de
consumo da nova classe média, obviamente estão as novas preocupações sociais e
políticas deste grupo, agora menos suscetível ao tipo de promessas e campanhas
tradicionalmente feitas durante os pleitos majoritários e proporcionais.
Trago o questionamento sobre
como os partidos e políticos estão se preparando para interagir com esta
maioria de eleitores em processo de transformação. Transformação em suas
aspirações pessoais, profissionais e sociais, todas permeadas pelas relações e
decisões políticas.
Não podemos esquecer que
essa promoção social foi ocasionada pelos governos que atuaram para estabilizar
a economia, gerar empregos e oportunizar o consumo àqueles que anteriormente
não dispunham dessas condições. Ironicamente podemos permitir uma analogia com
um adágio antigo: “quem cria cobra acaba sendo picado”, ou seja, o governo
fomentou uma ascensão social a uma grande parcela da população, porém não se
preparou para atende-la em suas novas demandas.
Exemplo deste descontentamento
da classe média vindo à tona foi a participação dos “coxinhas” nas
manifestações de junho de 2013 - fenômeno amplamente debatido e questionado por
militantes de esquerda, que não estavam acostumados a ver pessoas em roupas de
marca e carros novos gritando contra o sistema.
Alguns grupos sociais, até
mesmo dentro da academia, rotularam os manifestantes da classe média - exemplos
do consumismo capitalista- de “coxinhas”, e passaram a questionar a
legitimidade de seus gritos contra governos e propostas de emendas
constitucionais. Porém os participantes desta discriminada classe se enxergam
como inquisidores legítimos de seus direitos, e o são. Desta forma, mesmo que
ridicularizados por uma parcela mais radical e esquerdista do processo político
social, partidos e candidatos tem por obrigação se aproximar deste grupo e
passar a compreendê-lo, sob pena de encontrar nos próximos pleitos 53,8% de
eleitores que dirão em suas caras: “vocês não nos representam!”.
Marcos Marinho M. de Queiroz
Consultor
político membro da ABCOP. Professor de graduação e extensão da PUC-GO.
Twitter: @mmarinhomkt
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